2021
Tecnologia e Tradução – Ferramentas CAT
atelierdetraducoes / 0 Comments /s Ferramentas CAT (Computer Assisted Translation), comumente referidas pelo seu nome em inglês “CAT Tools”, são ferramentas empregadas por tradutores profissionais como instrumentos auxiliares em algumas traduções, e que não devem ser confundidas com as ferramentas de tradução automática (Machine Translation), como o Google Translate, por exemplo.
As CAT Tools permitem que os tradutores criem “memórias”, que nada mais são do que um conjunto de unidades de texto em um idioma que refletem a tradução do original. A ferramenta vem em branco, não há nada traduzido. Tudo será criado a partir do trabalho do tradutor, o que significa que, se o profissional não for bom, a memória criada refletirá um trabalho questionável, até que seja corrigida.
Assim, tudo que for traduzido pelo tradutor (e, nesse ponto, enfatizo que o tradutor ainda continua a ser o principal agente) será armazenado em uma memória, que servirá para utilização futura em textos similares.
O cliente também pode ter uma memória de trabalhos anteriores ou criar glossários específicos. Bons exemplos são a indústria automobilística e algumas grandes empresas, como a Microsoft.
Muitos trabalhos vêm acompanhados de memória e termos específicos, como a tradução de “delete” como “remover” (em vez de deletar ou apagar), que é uma exigência de algumas empresas de software.
Ao utilizar tais recursos, o tradutor se beneficia muito no caso de manuais extensos, onde um índice enorme, após traduzido, aparecerá automaticamente nos tópicos correspondentes ao longo do documento (propagação). Não fosse pelas ferramentas de tradução, em casos como este, o tradutor teria que voltar ao início do documento para verificar como traduziu o mesmo termo em momento anterior.
O legal é que, uma vez que os termos tenham sido inseridos na memória, não será necessário fazer buscas em dicionários ou em outras fontes. A busca por termos se torna muito fácil.
Dessa forma, temos que dar crédito a tais ferramentas, pois possibilitam manter a consistência do emprego de vocabulário em um documento.
Quanto mais se usa a ferramenta, mais completa ela fica, com mais vocabulário, termos e sentenças.
Em resumo, essas ferramentas permitem que os tradutores trabalhem mais rápido e de forma mais consistente.
Economiza tempo, sim, mas não serve para tudo.
Há uma discussão enorme em andamento no universo da tradução. Diversos tradutores acreditam que com a adoção dessas ferramentas, alguns profissionais deixaram de ter o cuidado necessário, e que muitos deixaram, inclusive, de fazer revisões.
Eu particularmente trabalho muito pouco com CAT Tools, pois não vi grandes benefícios para a área jurídica, na qual os textos têm estilos diferentes, fins diferentes, as frases são longas (muitas vezes gigantescas) e há poucas repetições. Serve-me mais como glossário, mas a maioria dos tradutores já faz glossários específicos relativos a suas áreas. O meu glossário pessoal de inglês jurídico conta hoje com aproximadamente 5.500 entradas.
No lado das desvantagens, vejo o recurso de “propagação de correspondências” (ou seja, uma frase já traduzida, será propagada por todo o documento) como sendo também um recurso para “propagação de erros”.
Como se não fosse terrível descobrir um erro em uma memória que você deve usar, imagine como a coisa piora ainda mais quando a memória de uma tradução malfeita é devolvida ao cliente e enviada a outros tradutores. Imagine o número de pessoas utilizando um termo errado.
No meu caso, na área jurídica, penso que as ferramentas também interferem na boa escrita. A tradução de segmentos é uma desvantagem. Uma frase imensa cortada em segmentos limita, e muito, uma redação fluída, ficando muito difícil dar uma nova estrutura ao parágrafo.
Ainda assim, alguns profissionais optam pela utilização dessas ferramentas e resolvem o problema na revisão.
No meu ver, e no meu caso, seria trabalho dobrado, porque eu acabaria mudando todas as frases.
Tecnologia ajuda, sim, mas o fator humano ainda é imprescindível.
Katia Gibbs – Tradutora
Revisão – Eline Bélier
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